Como a biotecnologia contribuiu para a evolução da insulina
Como a biotecnologia contribuiu para a evolução da insulina
Há cem anos, pesquisadores da Universidade de Toronto descobriram a insulina, hormônio responsável por controlar o açúcar no sangue. Para poder produzir em laboratório, os cientistas purificaram a insulina a partir de um pâncreas bovino1.
Apesar de eficiente para controlar o açúcar no sangue das pessoas com diabetes, essa insulina animal, que pode vir da vaca ou do porco, trazia impurezas que provocavam diversos efeitos colaterais nos pacientes.
Graças às técnicas da biotecnologia, atualmente, temos disponível a insulina humana produzida em laboratório, a partir da construção de uma bactéria recombinante, que carrega pedaços de DNA e sintetiza proteínas2.
As bactérias que produzem insulina foram criadas por cientistas no final dos anos 19703, após descobrirem que os mecanismos para produzir proteínas são praticamente iguais em todos os seres vivos.
A insulina recombinante recebeu autorização para ser usada em humanos a partir do início dos anos 1980, após muitas discussões éticas e formulação de parâmetros aceitáveis para se alterar as bactérias geneticamente3.
Essa evolução da insulina, além de ter poupado a vida de centenas de milhares de animais, trouxe mais segurança aos pacientes, pois é virtualmente idêntica à insulina natural humana, evitando complicações relacionadas ao sistema imunológico do paciente.
Biotecnologia e a bactéria recombinante
Por mais de uma década, a indústria de biotecnologia foi dominada pela tecnologia de DNA recombinante ou engenharia genética. Essa técnica consiste em emendar o gene para codificar uma proteína útil (muitas vezes, uma proteína humana) em células de produção — como leveduras, bactérias ou células de mamíferos em laboratórios pelo uso de cultura celular — que então começam a produzir a proteína em maior volume.
No processo de emendar um gene em uma célula de produção, organismo geneticamente modificado é criado. Inicialmente, investidores e pesquisadores de biotecnologia estavam incertos sobre se os tribunais permitiriam que eles adquirissem patentes em organismos; afinal, não eram permitidas patentes em novos organismos que passaram a ser descobertos e identificados na natureza.
Mas, em 1980, a Suprema Corte dos EUA, no caso de Diamond v. Chakrabarty, resolveu a questão ao decidir que "um microrganismo humano vivo é assunto patenteável". Essa decisão gerou uma onda de novas empresas de biotecnologia e o primeiro “boom” de investimentos da indústria4.
Em 1982, a insulina recombinante tornou-se o primeiro produto feito por meio da engenharia genética que recebeu a aprovação da Food and Drug Administration (FDA) dos EUA. Desde então, dezenas de medicamentos proteicos geneticamente modificados foram comercializados em todo o mundo, incluindo versões recombinantes de hormônio do crescimento, fatores de coagulação, proteínas para estimular a produção de glóbulos vermelhos e brancos, interferons e agentes trombolíticos4.
Herança
Os estudos que resultaram na produção de insulina humana em laboratório a partir da fermentação bacteriana foram realizados pela Universidade de Brasília (UnB) em parceria com a empresa Biobrás Bioquímica do Brasil1, empresa que faz parte da história da Biomm.
Durante a operação de venda da Biobrás para uma companhia dinamarquesa, a Biomm ficou com a expertise de 26 anos na produção em escala industrial de produtos biotecnológicos, direitos de propriedade intelectual da plataforma intelectual de produção de proteínas recombinantes, pesquisadores, executivos e equipamentos utilizados no desenvolvimento do processo de produção de insulina.
Continue acompanhando nossa série de posts sobre os 100 anos de insulina, aqui no blog e nas nossas redes sociais.
1Brasil, Agência Brasil. Descoberta da insulina, o "hormônio da vida”, completa 100 anos. [Acessado em 17 Setembro 2021] Disponível em: <https://agenciabrasil.ebc.com.br/saude/noticia/2021-08/descoberta-da-insulina-o-hormonio-da-vida-completa-100-anos>.
2São Paulo, Folha de. Insulina, responsável por salvar milhões de vidas, faz cem anos. [Acessado em 17 Setembro 2021] Disponível em <https://www1.folha.uol.com.br/equilibrioesaude/2021/07/insulina-responsavel-por-salvar-milhoes-de-vidas-faz-cem-anos.shtml>.
3Kowaltowski, Alicia. Como a ciência descobriu a insulina. [Acessado em 17 Setembro 2021] Disponível em <https://revistaquestaodeciencia.com.br/artigo/2019/04/21/como-ciencia-descobriu-insulina>.
4Lundvall, B-Å. (ed.) (1992), National Systems of Innovation: Towards a Theory of Innovation and Interactive Learning, London: Pinter Publishers.